Ladainha do Póstumos Natal

Há-de vim um natal e será o primeiro 
em que se veja á mesa o meu lugar vazio.

Há-de vir um natal e será o primeiro
em que hão-de me lembrar de um modo menos nítido.

Há-de vir um natal e será o primeiro
em que só uma voz me evoque a sós consigo.

Há-de vir um natal e será o primeiro
em que não viva já ninguém meu conhecido.

Há-de vir um natal e será o primeiro
em que nem vivo esteja um verso deste livro.

Há-de vir um natal e será o primeiro
em que terei de novo o nada a sós comigo.

Há-de vir um natal e será o primeiro
em que nem o natal terá qualquer sentido.

Há-de vir um natal e será o primeiro
em que o nada retome a cor do infinito.

Análise do poema

O poema fala sobre um Natal, o primeiro natal diferente do ponto de vista do poeta. Um natal daqui a um tempo, sem David á mesa, sem ninguém vivo que ele conheça. 

Figuras de estilo

"Há-de vim um natal e será o primeiro 
em que"
Anáfora- repetição de uma ou mais palavras no inicio de cada verso

"em que não viva já ninguém meu conhecido."
"em que nem vivo esteja um verso deste livro."
Anástrofe- Inversão da ordem das palavras

"em que hão-de me lembrar de um modo menos nítido." e "em que não viva já ninguém meu conhecido."
Antítese- Apresentação de um contraste entre duas ideias

"em que não viva já ninguém meu conhecido."
Eufemismo- Dizer de forma suave uma ideia desagradável