Que é feito de ternura amarrotada,
Da frescura que vem depois do sol,
Quando depois do sol não vem mais nada...
Olho a roupa no chão: que tempestade!
Há restos de ternura pelo meio,
Como vultos perdidos na cidade
Onde uma tempestade sobre veio.
Começas a vestir-te, lentamente,
E é ternura também que vou vestindo
Para enfrentar lá fora a gente
Que da nossa ternura anda sorrindo
Mas ninguém sonha a pressa com que nós
a despimos quando estamos sós!
Análise do poema
Este poema fala sobre a relação de duas pessoas.
Na primeira quadra o poeta tenta passar-nos a ideia de que o que aconteceu entre si e o outro sujeito foi cheio de ternura, como o lençol amarrotado que os tapava. Lençol o mesmo que era coberto de toda a frescura que sempre aparecia depois do sol, que talvez fosse o ato sexual. Mas para o poeta depois do sol não vem mais nada, depois daquilo que ali aconteceu mais nada se passará.
Na segunda estrofe o poeta encara a roupa que outrora teria sido espalhada no chão e consegue no meio dela encontrar vestígios de ternura, pouca ternura, comparando-a aos vultos que uma cidade tem logo depois de uma cidade a ter invadido.
O poeta compara a sua roupa á ternura que ainda sentia, "ternura" essa que ele iria usar para sair á rua, uma vez que não podia sair nu.
Nas ultimas duas estrofes o poeta passa aos leitores a ideia de que entre ele e a outra pessoa se passa algo que ninguém sabe. Toda a gente os vê com a "ternura" vestida enquanto se passeiam pela rua, mas ninguém imagina que quando estão sós a despem com imensa rapidez.
Figuras de estilo
"Da frescura que vem depois do sol,
Quando depois do sol não vem mais nada..."Antítese- apresentação de um contraste entre duas ideias.
"Há restos de ternura pelo meio,
Como vultos perdidos na cidade"
Comparação- relação de semelhança entre duas ideias, através de uma palavra ou expressão comparativa, ou de verbos a esta equivalentes.
"Para enfrentar lá fora a gente
Que da nossa ternura anda sorrindo"
Ironia- figura que sugere o contrário do que se quer dizer.